terça-feira, 23 de novembro de 2010

AS TRÊS

Enredo I – Num passado temporalmente não distante, mas de uma outra vida, ardia um jovem ao suor de seu corpo, em trabalhos pesados, ausente ao mundo. Em semelhantes palavras uma voz lhe interrompe e o faz suspirar: “sinto tua falta. A gente já não se vê e parece que tudo acabou entre nós”. Perto da segunda hora do dia, conclui o trabalho, em mais meia é banhado e, às três, ruma à região oposta da cidade onde, acampado frente a janela, narra a outrem uma alvura da lua, que, vestida de nua, sugere que os olhos cerrem dos céus e se prendam à terra pra saudade matar. “O que faz?” por pergunta e um “se vá!”, por resposta, em vindos momentos se há de lembrar.
Enredo II – Num passado presente, da vida presente, suava um jovem ao arder de seu corpo, em sussurros pesados, presente ao mundo. Em palavras semelhantes a nada, agora lhe dizem do que nada está bem. O sono não vem, e agora o que vem? E se fosse: “sentirá minha falta. Já não me verá, porquê tudo acabou entre nós(?)”. Ruma ao hospital, a lua não tem, e sua ausência sugere que os olhos se cerrem da terra e se prendam aos céus, ficará tudo bem. O efeito, o remédio, a enferma no peito agora está bem. “Retorne e repouse, estará tudo bem. Descanse, meu filho, se vá e descanse. Descanse meu bem”. Chegado, agora em casa era às três.
Enredo III - Das coisas que me apeguei ao desprazer, uma foi o das velhas caminhadas madrugueiras. Das gananciosas meretrizes, dos desbocados travestis e dos catatônicos crackentos até que saudade não sinto, mas, também raiva não tenho. Tristeza que vem é ao gastar uma madruga por outrem. Acabo de chegar da rua. Andei, olhei e até me diverti. Mas, tão só por um motivo: fui ao encontro de ninguém! E não vendo a todos, acabo por encontrar a mim. E agora, já são quase três. Assim como três foi o princípio, e as horas e os enredos e as mulheres que me tem, sempre em número de três, sempre elas sendo três, sempre três a cada vez.
* Segunda-feira, 22 de novembro de 2010. Em função das saudosas memórias do que me costuma sobrevir às madrugadas, estas que, quando por outras, me sofrem, e quando minhas, me tem. Agora eu findo, chegadas as três.